sexta-feira, 28 de maio de 2010

O ACORDO COM O IRÃ E AS NOVAS REVELAÇÕES SOBRE ISRAEL

Em meio a temas palpitantes como o do acordo
Brasil/Turquia/Irã que os EUA estimularam e agora torpedeiam, está passando quase despercebida a relevante informação de que Israel não só possui bombas atômicas aos montes, sem qualquer controle por parte de organismos internacionais, como andou tentando vender algumas ao regime segregacionista da África do Sul, em 1975.


E, no fundo, os dois assuntos se completam: que direito tem os EUA de exigirem que o Irã se submeta a uma daquelas revistas policiais em que até os orifícios do corpo são verificados, enquanto um país useiro e vezeiro em barbarizar vizinhos não só dispõe de armamentos que ameaçam a humanidade, como aceita negociá-los com qualquer um?

Ao contrário dos jovens que identificam os judeus com as características odiosas que seu estado incorporou, eu conheço bem os belos sonhos de outrora, dos kibutzim ao Bund.

O primeiro era uma experiência na linha do chamado socialismo utópico: o cultivo da terra em bases igualitárias, sem patrão, sem privilégios, sem desigualdade.

Tive jovens amigos de ascendência judaica que falavam maravilhas dos kibutzim, mas, pacifistas, relutavam em ir para um país onde poderiam ser convocados a qualquer instante para batalhas.

O socialismo revolucionário, por sua vez, era representado pelo Bund, a União Geral dos Trabalhadores Judeus na Lituânia, Polônia e Rússia, que estava entre as forças fundadoras do Partido Social-Democrata, tendo participado ativamente das revoluções russas de 1905 e 1917.

O MÉDICO SE TORNOU MONSTRO
Na segunda metade do século passado, entretanto, Israel viveu sua transição de Dr. Jeckill para Mr. Hide. Virou ponta-de-lança do imperialismo no Oriente Médio, responsável por genocídios e atrocidades que lhe valeram dezenas de condenações inócuas da ONU.
Até chegar ao que é hoje: um estado militarizado, mero bunker, a desempenhar o melancólico papel de vanguarda do retrocesso e do obscurantismo.

Ter, ademais, oferecido-se para dotar o apartheid de artefatos atômicos supera a pior imagem que já tínhamos de Israel.

É a pá de cal, a comprovação gritante de que o humanismo não tem mais espaço nenhum no estado judeu. O povo que nos deu Marx, Freud e Einstein hoje produz mas é novos Átilas, Gengis Khans e Pinochets.

Quanto à notícia publicada há poucos dias pelo Guardian londrino e que tantos preferem ignorar, é a seguinte: documentos secretos da África do Sul obtidos pelo acadêmico estadunidense Sasha Palakow-Suransky, além de exporem essa parceria política nauseabunda, constituem prova documental insofismável do programa nuclear israelense, que se sabia existir mas o estado judeu insistia em negar.

O Guardian divulgou inclusive um memorando do então chefe das Forças Armadas da África do Sul, general R. Armstrong, escrito no dia de um encontro entre os respectivos ministros da Defesa, Shimon Peres e Pieter Botha. Nele, o militar diz, de forma cifrada mas nem tanto, que, “considerando os méritos do sistema de armas oferecido [por Israel], algumas interpretações podem ser feitas, como a de que os mísseis serão armados com ogivas nucleares produzidas na África do Sul [grifo meu] ou em outro lugar”.

O NOME DOS MÍSSEIS É "JERICÓ"
Em entrevista publicada nesta 6ª feira (28) pela Folha de São Paulo, o acadêmico Palakow-Suransky rebate a alegação de Shimon Peres, de que sua assinatura não consta das minutas das reuniões:

"...mas ela aparece no documento que garante sigilo para a negociação sobre a venda de mísseis Jericó. Os documentos mostram acima de qualquer dúvida que o tema foi discutido em uma série de encontros em 1975. As frases usadas para descrever as ogivas são vagas, o que é comum nesse tipo de negociação. A confirmação de que o governo sul-africano viu a discussão como uma oferta nuclear explícita está num memorando do chefe do Estado-Maior, R. F. Armstrong, que detalha as vantagens do sistema de mísseis Jericó para a África do Sul, mas só se os mísseis tivessem ogivas nucleares. É a primeira vez que aparece um documento com a discussão sobre mísseis nucleares em termos concretos. O acordo nunca foi fechado, mas a discussão ocorreu, e o alto escalão sul-africano entendeu a proposta israelense como oferta nuclear".

O schoolar acrescentou que há outras evidências de colaboração de Israel com o apartheid:

"As principais são a continuação do projeto dos mísseis Jericó na África do Sul nos anos 80, quando especialistas israelenses ajudaram a construir projéteis de segunda geração para carregar ogivas nucleares; e a venda de 'yellow cake' [concentrado de urânio] da África do Sul para Israel em 1961".

E avalia que suas revelações não são a principal evidência disponível de que Israel possui arsenal atômico:

"As fotos de Mordechai Vanunu [técnico nuclear israelense condenado por traição] em 1986 são muito mais definitivas. O significado dos documentos não é provar que Israel tem armas nucleares, o que o mundo todo sabe há décadas. A notícia aqui é que a possível transferência de tecnologia nuclear foi debatida no alto escalão".

E, acrescento eu, a notícia é que Israel se dispôs a transferir tecnologia nuclear para um dos regimes mais execráveis e execrado do planeta. Dize-me com quem andas...

Também me chocou constatar que a aprazível "cidade das palmeiras" do Velho Testamento, onde os judeus recompuseram suas forças depois da escravidão, agora serve para nomear as armas do Juízo Final.
É um simbolismo bem apropriado para sua travessia negativa, que parece não ter fim, no sentido da desumanidade.

terça-feira, 4 de maio de 2010

A MAIOR AMEAÇA AO MUNDO SÃO OS 5.113 PETARDOS NUCLEARES DOS EUA

*Texto de Celso Lungaretti

O que podemos esperar dos responsáveis pelo horror de Hiroshima?

 

Sou insuspeito de simpatias pelo tirano obscurantista do Irã, Mahmoud Ahmadinejad: não tenho nenhuma.

Considero estado teocrático uma fantasmagoria medieval que resistiu à passagem das trevas para a luz; e Ahmadinejad, o responsável último pelo assassinato travestido de legalidade de manifestantes pacíficos, por terem supostamente desrespeitado os desígnios divinos (uma falácia que serve para justificar qualquer coisa que se queira).

Sou totalmente contrário à pena de morte para crimes de sangue e considero pura barbárie sua aplicação em episódios menores como o de se protestar contra fraude eleitoral; para pessoas civilizadas, isso nem delito é.

Ressalvas feitas, vou concordar uma vez com Ahmadinejad. Falando nesta 2ª feira (3) na reunião nuclear da ONU, ele acertou na mosca: a ameaça implícita estadunidense de utilizar bombas atômicas contra o Irã é atroz, hedionda, repulsiva e, portanto, merecedora do repúdio universal.

Parte de uma nação que já incidiu (duas vezes!) nesse ato de extrema desumanidade e abjeta covardia, de forma que a hipótese de reincidência não deve ser descartada.

Os EUA fizeram do povo japonês uma cobaia dos efeitos de petardos atômicos, detonando-os para, principalmente, servirem como efeito-demonstração: queriam intimidar Stalin, para que não ousasse exigir mais do que o quinhão do mundo que estavam dispostos a lhe conceder, na partilha de áreas de influência entre os vencedores da II Guerra Mundial.

Para forçar a rendição japonesa, hoje está mais do que provado, os holocaustos de Hiroshima e Nagasaki não eram minimamente necessários. Sem sequer armamentos e combustíveis para continuar lutando, o Japão já fazia sondagens secretas sobre uma fórmula de capitulação que não implicasse a deposição do seu imperador.
Depois de terem levado a cabo seu show macabro, os EUA acabaram consentindo que Hirohito permanecesse no trono do Japão. Quando ocuparam o país, entre 1945 e 1950, apenas impuseram a negação do caráter divino de sua investidura, fazendo o regime se transformar em monarquia constitucional.

O que serviu para comprovar, mais uma vez, a inexistência de qualquer motivo real para mandarem duas cidades e seus habitantes pelos ares, exterminando mais de 200 mil civis e impondo sofrimentos inenarráveis aos sobreviventes que haviam sido expostos à radiação.

Então, o fato de os EUA terem admitido possuir atualmente 5.113 petardos prontos para utilização significa que o mundo corre grave perigo. O que não farão eles quando seu império alicerçado na ganância e na desigualdade começar a ruir?!

E, de imediato, sua recente frase ambígua de que não utilizarão armas nucleares contra nações que não as tenham, desde que tais nações respeitem o Tratado de Não Proliferação Nuclear, deve ser encarada como uma séria ameaça e uma inaceitável afronta ao resto do mundo: os EUA erigem-se em árbitros que decidem quem pode ter o que, usando e abusando de sua condição de detentores do maior arsenal atômico, quando são os últimos a terem autoridade moral para dizer uma palavra sequer neste assunto. Os únicos que já utilizaram as armas do Juízo Final não têm lições para dar a ninguém.

Abaixo, o complexo nuclear-militar de Israel em Dimona no deserto de Negev. Israel possui mais de 150 ogivas nucleares desenvolvidas desde 1958 com apoio frances e norte-americano


Last but not least, devemos lembrar que Israel possui um arsenal nuclear totalmente à margem de qualquer supervisão internacional e é um país cujos crapulosos dirigentes não hesitam em ordenar genocídios com os perpetrados contra os palestinos na virada de 2008 para 2009.

Muito mais do que o Irã, que nem sequer possui armas nucleares, quem precisaria ser enquadrado, neste instante, é Israel.

(*) Jornalista e Escritor
Disponível em: http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/2010/05/maior-ameaca-ao-mundo-sao-os-5113.html