12 de Dezembro de 1914
Quanto se fala, se comenta e se grita agora sobre a nacionalidade, sobre a pátria! Os ministros liberais e radicais da Inglaterra, uma infinidade de publicistas «avançados» da França (que se encontraram plenamente de acordo com os publicistas da reacção), um sem-número de escribas oficiais, democratas-constitucionalistas e progressistas (incluindo alguns populistas e «marxistas») da Rússia — todos celebram de mil modos a liberdade e a independência da «pátria», a grandeza do princípio da independência nacional. É impossível distinguir onde termina aqui o venal enaltecedor do verdugo Nicolau Románov ou dos torturadores dos negros e dos habitantes da Índia, onde começa o filisteu medíocre que vai «na corrente» por estupidez ou por falta de carácter. Mas nem sequer importa diferenciá-lo. Temos diante de nós uma corrente ideológica muito ampla e muito profunda, cujas raízes estão ligadas muito solidamente aos interesses dos senhores latifundiários e capitalistas das nações dos Estados que são grandes potências. Para a propaganda das ideias vantajosas para estas classes são gastas dezenas e centenas de milhões por ano: é um grande moinho, que recebe água de toda a parte, a começar pelo convicto chauvinista Ménchikov e a terminar nos chauvinistas por oportunismo ou por falta de carácter, Plekhánov e Máslov, Rubanóvitch e Smirnov, Kropótkine e Búrtsev.
Tentemos também nós, sociais-democratas grão-russos, definir a nossa atitude para com esta corrente ideológica. Para nós, representantes de uma nação de uma grande potência do extremo leste da Europa e de uma boa parte da Ásia, seria indecoroso esquecer o enorme significado da questão nacional; particularmente num país que é chamado com razão «prisão de povos»; num momento em que precisamente no extremo leste da Europa e na Ásia o capitalismo está a despertar para a vida e para a consciência toda uma série de «novas» nações, grandes e pequenas; num momento em que a monarquia tsarista pôs em armas milhões de grão-russos e «alógenos» para «resolver» toda uma série de questões nacionais de acordo com os interesses do conselho da nobreza unificada[N346] e dos Gutchkov, dos Krestóvnikov, dos Dolgorúkov, dos Kútler, dos Róditchev.
Ser-nos-á aíheio a nós, proletários grão-russos conscientes, o sentimento de orgulho nacional? Naturalmente que não! Amamos a nossa língua e a nossa pátria, fazemos o máximo para que as suas massas trabalhadoras, (isto é, 9/10 da sua população) se elevem a uma vida consciente de democratas e socialistas. Causa-nos a maior dor ver e sentir a que violências, opressão e vexames submetem a nossa bela pátria os verdugos tsaristas, os nobres e os capitalistas. Nós orgulhamo-nos de que essas violências tenham provocado resistências entre nós, entre os grão-russos, de que entre estes se tenham destacado um Radíchtchev, os dezembristas, os revolucionários raznotchintsi dos anos 70, de que a classe operária grã-russa tenha criado em 1905 um poderoso partido revolucionário de massas, de que o mujique grão-russo tenha começado ao mesmo tempo a tornar-se um democrata, tenha começado a derrubar o padre e o latifundiário.
Recordamos que há meio século atrás o democrata grão-russo Tchernichévski, consagrando a sua vida à causa da revolução, disse: «nação miserável, nação de escravos, de alto abaixo — todos são escravos»[N347]. Os escravos grão-russos declarados e encobertos (escravos em relação à monarquia tsarista) não gostam de recordar estas palavras. Mas nós cremos que estas eram palavras de autêntico amor à pátria, amor entristecido pela ausência de espírito revolucionário nas massas da população grã-russa. Então ele não existia. Actualmente, ainda que pouco, já existe. Estamos penetrados pelo sentimento de orgulho nacional porque a nação grã-russa também criou uma classe revolucionária, também provou que é capaz de dar à humanidade grandes exemplos de luta pela liberdade e pelo socialismo, e não apenas grandes pogromes, fileiras de forcas, masmorras, grandes fomes e grande servilismo perante os padres, os tsares, os latifundiários e os capitalistas.
Estamos penetrados pelo sentimento de orgulho nacional, e precisamente por isso odiamos particularmente o nosso passado de escravos (quando os latifundiários nobres levavam para a guerra os mujiques para estrangular a liberdade da Hungria, da Polónia, da Pérsia, da China) e o nosso presente de escravos, quando os mesmos latifundiários, apoiados pelos capitalistas, nos levam à guerra para estrangular a Polónia e a Ucrânia, para esmagar o movimento democrático na Pérsia e na China, para reforçar o bando dos Románov, dos Bobrínski, dos Purichkévitch, que desonram a nossa dignidade nacional grã-russa. Ninguém é culpado de ter nascido escravo; mas o escravo que não só evita aspirar a conquistar a sua liberdade, mas também justifica e embeleza a sua escravidão (por exemplo, chama o estrangulamento da Polónia, da Ucrânia, etc, «defesa da pátria» dos grão-russos), tal escravo é um lacaio e um bruto que provoca um legítimo sentimento de indignação, de desprezo e de repugnância.
«Não pode ser livre um povo que oprime outros povos»[N348], assim diziam os maiores representantes da democracia consequente do século XIX, Marx e Engels, que se tornaram os mestres do proletariado revolucionário. E nós, operários grão-russos, penetrados pelo sentimento de orgulho nacional, queremos, aconteça o que acontecer, uma Grã-Rússia livre e independente, autónoma, democrática, republicana e orgulhosa, que assente as suas relações com os vizinhos no princípio humano da igualdade, e não no principio feudal do privilégio, que humilha uma grande nação. E precisamente porque a queremos assim, dizemos: não se pode, no século XX, na Europa (ainda que seja na Europa extremo-oriental), «defender a pátria» de outra forma que não seja lutando com todos os meios revolucionários contra a monarquia, os latifundiários e os capitalistas da própria pátria, isto é, contra os piores inimigos da nossa pátria; os grão-russos não podem «defender a pátria» de outra forma que não seja desejando em qualquer guerra a derrota do tsarismo, como o mal menor para 9/10 da população da Grã-Rússia, pois o tsarismo não só oprime económica e politicamente estes 9/10 da população como também a desmoraliza, humilha, desonra, prostitui, habituando-a a oprimir outros povos, habituando-a a encobrir a sua vergonha com frases hipócritas, pretensamente patrióticas.
Objectar-nos-ão, talvez, que além do tsarismo e sob a sua asa surgiu e se fortaleceu já outra força histórica, o capitalismo grão-russo, que faz um trabalho progressivo, centralizando economicamente e unindo enormes regiões. Mas tal objecção não justifica, antes acusa ainda mais fortemente os nossos socialistas-chauvinistas, a quem se deveria chamar socialistas do tsar e de Purichkévitch (como Marx chamou aos lassallianos socialistas do rei da Prússia)[N349]. Admitamos mesmo que a história decidirá a questão a favor do capitalismo de grande potência grã-russo, contra cento e uma pequenas nações. Isto não é impossível, pois toda a história do capital é uma história de violências e de pilhagens, de sangue e de lama. E nós não somos de modo algum partidários incondicionais de nações pequenas; nós somos incondicionalmente, sendo iguais as outras condições, pela centralização e contra o ideal filisteu de relações federativas. Todavia, mesmo em tal caso, em primeiro lugar, não nos cabe, não cabe aos democratas (sem falar já dos socialistas), ajudar os Románov—Bobrínski—Purichkévitch a estrangular a Ucrânia, etc. Bismarck realizou à sua maneira, à maneira dos junkers, um trabalho histórico progressivo, mas seria um belo «marxista» aquele que nesta base pensasse justificar a ajuda socialista a Bismarck! E, além disso, Bismarck ajudou o desenvolvimento económico ao unificar os alemães dispersos, que eram oprimidos por outros povos. Ao passo que o florescimento económico e o rápido desenvolvimento da Grã-Rússia exigem a libertação do país da violência dos grão-russos sobre outros povos — esta diferença é esquecida pelos nossos admiradores dos quase-Bismarcks verdadeiramente russos.
Em segundo lugar, se a história decidir a questão a favor do capitalismo de grande potência grão-russo, daí decorre que será tanto maior o papel socialista do proletariado grão-russo, como principal propulsor da revolução comunista, gerada pelo capitalismo. Mas para a revolução do proletariado é necessária uma longa educação dos operários no espírito da mais plena igualdade e fraternidade nacionais. Consequentemente, do ponto de vista dos interesses precisamente do proletariado grão-russo, é necessária uma longa educação das massas no sentido da defesa mais decidida, consequente, corajosa e revolucionária da plena igualdade de direitos e do direito à autodeterminação de todas as nações oprimidas pelos grão-russos. O interesse entendido não servilmente do orgulho nacional dos grão-russos coincide com o interesse socialista dos proletários grão-russos (e de todos os outros proletários). O nosso modelo continuará a ser Marx, que, depois de viver decénios em Inglaterra, se tornou meio inglês e reivindicou liberdade e independência nacional para a Irlanda no interesse do movimento socialista dos operários ingleses.
Em contrapartida os nossos chauvinistas socialistas domésticos, Plekhánov, etc, etc, neste último e hipotético caso que foi por nós examinado, revelar-se-ão traidores não só à sua pátria, à livre e democrática Grã-Rússia, mas também traidores à fraternidade proletária de todos os povos da Rússia, isto é, à causa do socialismo.
Tentemos também nós, sociais-democratas grão-russos, definir a nossa atitude para com esta corrente ideológica. Para nós, representantes de uma nação de uma grande potência do extremo leste da Europa e de uma boa parte da Ásia, seria indecoroso esquecer o enorme significado da questão nacional; particularmente num país que é chamado com razão «prisão de povos»; num momento em que precisamente no extremo leste da Europa e na Ásia o capitalismo está a despertar para a vida e para a consciência toda uma série de «novas» nações, grandes e pequenas; num momento em que a monarquia tsarista pôs em armas milhões de grão-russos e «alógenos» para «resolver» toda uma série de questões nacionais de acordo com os interesses do conselho da nobreza unificada[N346] e dos Gutchkov, dos Krestóvnikov, dos Dolgorúkov, dos Kútler, dos Róditchev.
Ser-nos-á aíheio a nós, proletários grão-russos conscientes, o sentimento de orgulho nacional? Naturalmente que não! Amamos a nossa língua e a nossa pátria, fazemos o máximo para que as suas massas trabalhadoras, (isto é, 9/10 da sua população) se elevem a uma vida consciente de democratas e socialistas. Causa-nos a maior dor ver e sentir a que violências, opressão e vexames submetem a nossa bela pátria os verdugos tsaristas, os nobres e os capitalistas. Nós orgulhamo-nos de que essas violências tenham provocado resistências entre nós, entre os grão-russos, de que entre estes se tenham destacado um Radíchtchev, os dezembristas, os revolucionários raznotchintsi dos anos 70, de que a classe operária grã-russa tenha criado em 1905 um poderoso partido revolucionário de massas, de que o mujique grão-russo tenha começado ao mesmo tempo a tornar-se um democrata, tenha começado a derrubar o padre e o latifundiário.
Recordamos que há meio século atrás o democrata grão-russo Tchernichévski, consagrando a sua vida à causa da revolução, disse: «nação miserável, nação de escravos, de alto abaixo — todos são escravos»[N347]. Os escravos grão-russos declarados e encobertos (escravos em relação à monarquia tsarista) não gostam de recordar estas palavras. Mas nós cremos que estas eram palavras de autêntico amor à pátria, amor entristecido pela ausência de espírito revolucionário nas massas da população grã-russa. Então ele não existia. Actualmente, ainda que pouco, já existe. Estamos penetrados pelo sentimento de orgulho nacional porque a nação grã-russa também criou uma classe revolucionária, também provou que é capaz de dar à humanidade grandes exemplos de luta pela liberdade e pelo socialismo, e não apenas grandes pogromes, fileiras de forcas, masmorras, grandes fomes e grande servilismo perante os padres, os tsares, os latifundiários e os capitalistas.
Estamos penetrados pelo sentimento de orgulho nacional, e precisamente por isso odiamos particularmente o nosso passado de escravos (quando os latifundiários nobres levavam para a guerra os mujiques para estrangular a liberdade da Hungria, da Polónia, da Pérsia, da China) e o nosso presente de escravos, quando os mesmos latifundiários, apoiados pelos capitalistas, nos levam à guerra para estrangular a Polónia e a Ucrânia, para esmagar o movimento democrático na Pérsia e na China, para reforçar o bando dos Románov, dos Bobrínski, dos Purichkévitch, que desonram a nossa dignidade nacional grã-russa. Ninguém é culpado de ter nascido escravo; mas o escravo que não só evita aspirar a conquistar a sua liberdade, mas também justifica e embeleza a sua escravidão (por exemplo, chama o estrangulamento da Polónia, da Ucrânia, etc, «defesa da pátria» dos grão-russos), tal escravo é um lacaio e um bruto que provoca um legítimo sentimento de indignação, de desprezo e de repugnância.
«Não pode ser livre um povo que oprime outros povos»[N348], assim diziam os maiores representantes da democracia consequente do século XIX, Marx e Engels, que se tornaram os mestres do proletariado revolucionário. E nós, operários grão-russos, penetrados pelo sentimento de orgulho nacional, queremos, aconteça o que acontecer, uma Grã-Rússia livre e independente, autónoma, democrática, republicana e orgulhosa, que assente as suas relações com os vizinhos no princípio humano da igualdade, e não no principio feudal do privilégio, que humilha uma grande nação. E precisamente porque a queremos assim, dizemos: não se pode, no século XX, na Europa (ainda que seja na Europa extremo-oriental), «defender a pátria» de outra forma que não seja lutando com todos os meios revolucionários contra a monarquia, os latifundiários e os capitalistas da própria pátria, isto é, contra os piores inimigos da nossa pátria; os grão-russos não podem «defender a pátria» de outra forma que não seja desejando em qualquer guerra a derrota do tsarismo, como o mal menor para 9/10 da população da Grã-Rússia, pois o tsarismo não só oprime económica e politicamente estes 9/10 da população como também a desmoraliza, humilha, desonra, prostitui, habituando-a a oprimir outros povos, habituando-a a encobrir a sua vergonha com frases hipócritas, pretensamente patrióticas.
Objectar-nos-ão, talvez, que além do tsarismo e sob a sua asa surgiu e se fortaleceu já outra força histórica, o capitalismo grão-russo, que faz um trabalho progressivo, centralizando economicamente e unindo enormes regiões. Mas tal objecção não justifica, antes acusa ainda mais fortemente os nossos socialistas-chauvinistas, a quem se deveria chamar socialistas do tsar e de Purichkévitch (como Marx chamou aos lassallianos socialistas do rei da Prússia)[N349]. Admitamos mesmo que a história decidirá a questão a favor do capitalismo de grande potência grã-russo, contra cento e uma pequenas nações. Isto não é impossível, pois toda a história do capital é uma história de violências e de pilhagens, de sangue e de lama. E nós não somos de modo algum partidários incondicionais de nações pequenas; nós somos incondicionalmente, sendo iguais as outras condições, pela centralização e contra o ideal filisteu de relações federativas. Todavia, mesmo em tal caso, em primeiro lugar, não nos cabe, não cabe aos democratas (sem falar já dos socialistas), ajudar os Románov—Bobrínski—Purichkévitch a estrangular a Ucrânia, etc. Bismarck realizou à sua maneira, à maneira dos junkers, um trabalho histórico progressivo, mas seria um belo «marxista» aquele que nesta base pensasse justificar a ajuda socialista a Bismarck! E, além disso, Bismarck ajudou o desenvolvimento económico ao unificar os alemães dispersos, que eram oprimidos por outros povos. Ao passo que o florescimento económico e o rápido desenvolvimento da Grã-Rússia exigem a libertação do país da violência dos grão-russos sobre outros povos — esta diferença é esquecida pelos nossos admiradores dos quase-Bismarcks verdadeiramente russos.
Em segundo lugar, se a história decidir a questão a favor do capitalismo de grande potência grão-russo, daí decorre que será tanto maior o papel socialista do proletariado grão-russo, como principal propulsor da revolução comunista, gerada pelo capitalismo. Mas para a revolução do proletariado é necessária uma longa educação dos operários no espírito da mais plena igualdade e fraternidade nacionais. Consequentemente, do ponto de vista dos interesses precisamente do proletariado grão-russo, é necessária uma longa educação das massas no sentido da defesa mais decidida, consequente, corajosa e revolucionária da plena igualdade de direitos e do direito à autodeterminação de todas as nações oprimidas pelos grão-russos. O interesse entendido não servilmente do orgulho nacional dos grão-russos coincide com o interesse socialista dos proletários grão-russos (e de todos os outros proletários). O nosso modelo continuará a ser Marx, que, depois de viver decénios em Inglaterra, se tornou meio inglês e reivindicou liberdade e independência nacional para a Irlanda no interesse do movimento socialista dos operários ingleses.
Em contrapartida os nossos chauvinistas socialistas domésticos, Plekhánov, etc, etc, neste último e hipotético caso que foi por nós examinado, revelar-se-ão traidores não só à sua pátria, à livre e democrática Grã-Rússia, mas também traidores à fraternidade proletária de todos os povos da Rússia, isto é, à causa do socialismo.
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