sábado, 29 de novembro de 2008

O Dezoito de Junho

V. I. Lénine
3 de Julho de 1917
O 18 de Junho entrará, de um modo ou de outro, na história da revolução russa como um dia de viragem.
A posição recíproca das classes, a sua correlação na luta entre si, a sua força, especialmente em comparação com a força dos partidos — tudo isto se revelou na manifestação de domingo[N92] de maneira tão nítida, tão clara, tão impressionante, que, seja qual for o curso e seja qual for o ritmo do desenvolvimento do futuro, o que se ganhou em consciência e em clareza é gigantesco.
A manifestação dissipou em poucas horas, como uma mão cheia de poeira, as palavras ocas sobre os bolcheviques conspiradores, e demonstrou com indiscutível clareza que a vanguarda das massas trabalhadoras da Rússia, o proletariado industrial da capital e as suas tropas, estão, na sua esmagadora maioria, de acordo com as palavras de ordem sempre defendidas pelo nosso partido.
O passo cadenciado dos batalhões de operários e soldados. Aproximadamente meio milhão de manifestantes. A unidade de uma ofensiva de conjunto. A unidade em torno das palavras de ordem, entre as quais tinham enorme preponderância: «todo o poder aos Sovietes», «abaixo os dez ministros capitalistas», «nem paz separada com os alemães, nem tratados secretos com os capitalistas anglo-franceses», etc. Ninguém que tenha visto a manifestação ficou com a menor dúvida sobre a vitória destas palavras de ordem entre a vanguarda organizada das massas de operários e soldados da Rússia.
A manifestação do dia 18 de Junho converteu-se numa manifestação das forças e da política do proletariado revolucionário, que indica a direcção à revolução, que indica a saída do impasse. Nisto reside a gigantesca importância histórica da manifestação de domingo, nisto se distingue fundamentalmente das manifestações no dia do funeral das vítimas da revolução e no dia 1.° de Maio. Aquela foi uma homenagem unânime à primeira vitória da revolução e aos seus heróis, um olhar retrospectivo que o povo dirigia sobre a primeira etapa para a liberdade, percorrida tão rápida e tão triunfalmente. O 1.° de Maio foi uma festa de desejos e esperanças, ligados à história do movimento operário mundial, ao seu ideal de paz e socialismo.
Nem uma nem outra das manifestações se propunha como objectivo indicar a direcção do movimento futuro da revolução, nem podiam indicá--lo. Nem uma nem outra apresentava às massas, e em nome delas, as questões concretas, precisas, actuais, de para onde e como devia prosseguir a revolução.
Neste sentido o 18 de Junho foi a primeira manifestação política de acção, um esclarecimento — não num livrinho ou num jornal, mas na rua, não pelos dirigentes, mas pelas massas –, um esclarecimento de como as diferentes classes actuam, querem actuar e actuarão para levar a revolução por diante.
A burguesia escondeu-se. Numa manifestação pacífica organizada pela evidente maioria do povo, com liberdade de palavras de ordem partidárias e cujo fim primordial era pronunciar-se contra a contra-revolução, a burguesia recusou-se a participar em tal manifestação. É compreensível. É a burguesia que é a contra-revolução. Esconde-se do povo, organiza contra o povo verdadeiras conspirações contra-revolucionárias. Na jornada histórica de 18 de Junho, os partidos que hoje governam na Rússia, os partidos dos socialistas-revolucionários e mencheviques, revelaram-se com clareza como os partidos da vacilação. As suas palavras de ordem expressavam vacilação e foram seguidas, claramente, aos olhos de todos, por uma minoria. Ficar parado, deixar por ora tudo tal como está: eis o que eles aconselhavam ao povo com as suas palavras de ordem, com as suas vacilações. E o povo sentia, e eles sentiam que isso era impossível.
Basta de vacilações, dizia a vanguarda do proletariado, a vanguarda das massas de operários e soldados da Rússia. Basta de vacilações. A política de confiança nos capitalistas, no seu governo, nos seus vãos esforços reformadores, na sua guerra, na sua política de ofensiva, é uma política desesperada. A sua falência está próxima. A sua falência é inevitável. Será também a falência dos partidos governantes dos socialistas-revolucionários e mencheviques. A ruína aproxima-se mais e mais. É impossível salvar-se dela de outro modo a não ser por medidas revolucionárias da classe revolucionária no poder.
Que o povo rompa com a política de confiança nos capitalistas, que deposite a confiança na classe revolucionária, no proletariado. Nele e só nele está a fonte da força. Nele e só nele está a garantia de que servirá os interesses da maioria, os interesses dos trabalhadores e explorados, esmagados pela guerra e pelo capital, capazes de vencer a guerra e o capital!
Uma crise de proporções inauditas se abateu sobre a Rússia e sobre toda a humanidade. A única saída reside em confiar no destacamento avançado e melhor organizado dos trabalhadores e explorados, apoiar a sua política.
Não sabemos se o povo compreenderá rapidamente esta lição, nem como a porá em prática. Mas sabemos com certeza que, fora desta lição, não existe saída do impasse, que as possíveis vacilações ou atrocidades da contra-revolução não darão nada.
Fora de uma plena confiança das massas populares no seu dirigente, o proletariado, não há saída.

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