Setembro de 1916
O velho «economismo», dos anos 1894-1902, raciocinava assim. Os populistas foram refutados. O capitalismo venceu na Rússia. Isto significa que não há que pensar em revoluções políticas. Conclusão prática: ou «para os operários a luta económica, para os liberais a política». Isto é uma pirueta para a direita. Ou — em vez da revolução política, uma greve geral para a revolução socialista. Isto é uma pirueta para a esquerda, representada por uma brochura, actualmente esquecida, de um «economista» russo do fim dos anos 90[N372].
Agora nasce um novo «economismo», que raciocina com duas piruetas análogas: «para a direita» — nós somos contra o «direito à autodeterminação» (isto é, contra a libertação dos povos oprimidos, contra a luta contra as anexações, isto não foi ainda pensado até ao fim ou dito até ao fim). «Para a esquerda» — nós somos contra o programa mínimo (isto é, contra a luta por reformas e pela democracia), pois isso «está em contradição» com a revolução socialista.
Já decorreu mais de um ano desde que esta tendência nascente se manifestou perante alguns camaradas, precisamente na Conferência de Berna na Primavera de 1915[N373]. Então, felizmente, apenas um camarada, que deparou com a desaprovação geral, insistiu até ao fim da conferência nestas ideias do «economismo imperialista» e as formulou por escrito sob a forma de «teses» especiais. Ninguém se associou a estas teses.
Depois associaram-se às teses desse mesmo camarada contra a autodeterminação outros dois (não conscientes da ligação indissolúvel desta questão com a posição geral das «teses» que acabamos de citar[N374]. Mas o aparecimento do «programa holandês» em Fevereiro de 1916, publicado no n.° 3 do Boletim da Comissão Socialista Internacional[N375], imediatamente revelou este «mal-entendido» elevou novamente o autor das «teses» iniciais a ressuscitar todo o seu «economismo imperialista» agora em conjunto, e não aplicado a um ponto pretensamente «parcial».
É absolutamente necessário advertir uma e outra vez os camaradas em questão de que eles st atolaram num pântano, de que as suas «ideias» não têm nada de comum nem com o marxismo, nem com a social-democracia revolucionária. É inadmissível deixar por mais tempo as coisas «no fundo da arca»: isso significaria contribuir para a confusão ideológica e orientá-la para o pior aspecto dos mal-entendidos, dos conflitos «particulares», dos intermináveis «atritos», etc. Pelo contrário, o nosso dever é insistir do modo mais incondicional e categórico na obrigatoriedade de pensar e compreender definitivamente as questões colocadas.
Nas teses sobre a autodeterminação (impressas em alemão, como separata do n.° 2 da Vorbote[N376] a redacção do Sotsial-Demokrat levou de propósito a questão à imprensa de forma impessoal, mas o mais pormenorizada possível, sublinhando em especial a ligação da questão da autodeterminação com a questão geral da luta por reformas, pela democracia, da inadmissíbilidade de ignorar o aspecto político, etc.(1*) Nas suas notas sobre as teses da redacção sobre a autodeterminação, o autor das teses iniciais («do economismo imperialista») solidariza-se com o programa holandês e com isto ele próprio mostra de forma especialmente evidente que a questão da autodeterminação não é de modo algum «parcial», na sua colocação pelos autores da tendência nascente, mas uma questão geral e fundamental.
O programa dos holandeses foi recebido pelos representantes da esquerda de Zimmerwald[N377] em 5-8. II. 1916, na reunião de Berna da Comissão Socialista Internacional[N378]. Nem um só dos membros desta esquerda, não excluindo mesmo Rádek, se pronunciou por este programa, pois ele reúne, desordenadamente, pontos tais como a «expropriação dos bancos», tais como a «abolição das taxas comerciais», a «supressão da primeira câmara do senado», etc. Todos os representantes da esquerda de Zimmerwald unanimemente, com meias palavras e até mesmo quase sem palavras, com um simples encolher de ombros — passaram por cima do programa holandês como evidentemente infeliz no seu conjunto.
Quanto ao autor das teses iniciais, escritas na Primavera de 1915, este programa agradou-lhe tanto que ele declarou: «eu no fundo nada mais disse» (na Primavera de 1915), «os holandeses pensaram até ao fim»: «entre eles, o aspecto económico é a expropriação dos bancos e das grandes indústrias» (empresas), «e o político é a república, etc. Absolutamente justo!».
De facto, os holandeses não «pensaram até ao fim», mas apresentaram um programa muito pouco pensado. É do triste destino da Rússia que entre nós algumas pessoas se agarrem exactamente ao que é pouco pensado nas novidades mais novas...
Ao autor das teses de 1915 parece que a redacção do Sotsial-Demokrat tinha caído em contradição quando «ela própria» apresentou a «expropriação dos bancos», acrescentando mesmo a palavra «imediatamente» (mais «medidas ditatoriais») no § 8 (Tarefas Concretas). «E como eu fui censurado em Berna por causa disto!» — exclama indignado o autor das teses de 1915, ao recordar as discussões de Berna na Primavera de 1915.
Este autor esqueceu-se e deixou passar uma «miudeza»: a redacção do Sotsial-Demokrat no § 8 analisa com clareza dois casos: I — a revolução socialista começou. Então, diz-se ali, a «imediata expropriação dos bancos», etc. II caso: a revolução socialista não começou e então é preciso esperar para falar sobre estas coisas boas.
Como agora a revolução socialista no sentido indicado manifestamente ainda não começou, o programa dos holandeses é também nisso absurdo. Mas o autor das teses «aprofunda» a questão, regressando («todas as vezes neste mesmo lugar»...) ao seu velho erro: transformar as reivindicações políticas (como a «supressão da primeira câmara»?) em «formulação política da revolução social».
Tendo marcado passo no mesmo lugar durante todo um ano, o autor volta ao seu velho erro. Aqui está a «chave» das suas atribulações: ele não pode compreender a questão de como ligar o advento do imperialismo com a luta pelas reformas e com a luta pela democracia, precisamente da mesma forma como o «economismo» de saudosa memória não soube ligar o advento do capitalismo com a luta pela democracia.
Daí a mais completa confusão na questão do «carácter irrealizável» das reivindicações democráticas sob o imperialismo.
Daí o ignorar, inadmissível para um marxista (e oportuno somente na boca de um «economista» partidário do Rabótchaia Misl), da luta política agora, no momento actual, imediatamente, como sempre.
Daí a persistente qualidade de se «desviar» do reconhecimento do imperialismo para a apologia do imperialismo (tal como os «economistas» de saudosa memória se desviavam do reconhecimento do capitalismo para a apologia do capitalismo).
Etc., etc.
Não há possibilidade alguma de analisar em todos os pormenores os erros do autor das teses de 1915 nas suas notas acerca das teses da redacção do Sotsial-Demokrat sobre a autodeterminação, pois cada frase é errada! Pois não se pode escrever brochuras ou livros em resposta às «notas» se os iniciadores do «economismo imperialista» marcam passo no mesmo lugar há um ano e teimosamente não querem ocupar-se daquilo de que é seu dever partidário directo ocupar-se, se quiserem ter uma atitude séria para com as questões políticas, a saber: expor de maneira pensada e integral aquilo a que eles chamam «nossas divergências».
Sou obrigado a limitar-me a umas breves indicações acerca de como é que o autor aplica o seu erro fundamental ou de como ele o «completa».
O autor tem a impressão de que eu me contradigo: em 1914 [Prosvechtchênie) eu escrevia que é um absurdo procurar a autodeterminação «nos programas dos socialistas da Europa Ocidental» e, em 1916, declaro que a autodeterminação é especialmente urgente.
O autor nem sonhou (!!) que estes «programas» foram escritos em 1875, 1880 e 1891![N379]
Prossigamos por §§ (das teses da redacção do Sotsial-Demokrat sobre a autodeterminação):
§ 1. A mesma má vontade «economista» de ver e colocar as questões políticas. Como o socialismo criará a base económica para suprimir a opressão nacional na política, por isso o nosso autor não quer formular as nossas tarefas políticas neste domínio! Isto é simplesmente singular!
Como o proletariado vitorioso não nega as guerras com a burguesia de outros países, por isso o autor não quer formular as nossas tarefas políticas no domínio da opressão nacional!! Tudo isto são exemplos de completas violações do marxismo e da lógica; ou, se quiserdes, uma manifestação da lógica dos erros fundamentais do «economismo imperialista».
§ 2. Os adversários da autodeterminação embrulharam-se imprudentemente com as evocações do «carácter irrealizável».
A redacção do Sotsial-Demokrat explica-lhes dois significados possíveis do carácter irrealizável e o seu erro em ambos os casos.
Mas o autor das teses de 1915, sem tentar sequer apresentar a sua concepção de «carácter irrealizável», isto é, aceitandoa nossa explicação de que se confundem aqui duas coisas diferentes, prossegue nesta confusão!!
Ele liga as crises à «política» «imperialista»: o nosso economista esqueceu-se que as crises existiram antes do imperialismo!...
Falar sobre o carácter economicamente irrealizável da autodeterminação significa embrulhar, explica a redacção. O autor não responde, não declara que ele considera economicamente irrealizável a autodeterminação; ele cede a posição em debate, saltando para a política («mesmo assim» irrealizável), apesar de lhe ter sido dito com a maior clareza que politicamente também a república é tão perfeitamente «irrealizável» sob o imperialismo como a autodeterminação.
Encurralado aqui, o autor «salta» uma vez mais: reconhece tanto a república como todo o programa mínimo apenas como «formulação política da revolução social»!!!
O autor nega-se a defender o carácter «economicamente» irrealizável da autodeterminação, saltando para a política. O carácter politicamente irrealizável é transferido por ele para a questão de todo o programa mínimo. Também aqui não há nem um grão de marxismo, nem um grão de lógica, além da lógica do «economismo imperialista».
O autor quer abolir despercebidamente (sem pensar ele próprio e sem nada dar de acabado, sem trabalhar na elaboração do seu programa) o programa mínimo do partido sodal-democrata! Não é de admirar que ele marque passo no mesmo lugar há um ano!!
A questão da luta contra o kaustskismo não é, além disso, parcial, mas sim uma questão geral e fundamental da actualidade: o autor não compreendeu esta luta. Da mesma forma que os «economistas» transformavam a luta contra o populismo em apologia do capitalismo, também o autor transforma a luta contra o kautskismo em apologia do imperialismo (isto diz respeito também ao § 3).
O erro do kautskismo consiste em que ele coloca de modo reformista tais reivindicações e em tal momento que não podem ser colocadas senão de modo revolucionário (e o autor perde-se pensando que o erro do kautskismo consiste na própria colocação destas reivindicações, tal como os «economistas» «compreendiam» a luta contra o populismo no sentido de que o «abaixo a autocracia» é populismo).
O erro do kautskismo consiste em que ele orienta as reivindicações democráticas justas para trás, para o capitalismo pacífico, e não para a frente, para a revolução social (mas o autor resvala para a opinião de que estas reivindicações não são justas).
§ 3. Ver acima. A questão da «federação» também é iludida pelo autor. O mesmo erro fundamental do mesmo «economismo»: a incapacidade de colocar as questões políticas.(2*)
§ 4. «Da autodeterminação decorre a defesa da pátria», — afirma obstinadamente o autor. Aqui o seu erro consiste em que ele quer transformar a negação da defesa da pátria num chavão, deduzi-la não de uma particularidade histórica concreta desta guerra, mas «em geral». Isto não é marxismo.
Ao autor já se disse há muito tempo, e ele não o desmentiu: experimente inventar uma formulação da luta contra a opressão ou a desigualdade nacional tal que (a formulação) não justifique a «defesa da pátria». Não poderá fazê-lo.
Significa isto que nós somos contrários à luta contra a opressão nacional se dela se pode deduzir a defesa da pátria?
Não. Porque nós não somos contrários «em geral» à «defesa da pátria» (ver as resoluções do nosso partido)(3*) mas contrários ao embelezamento da presente guerra imperialista com esta palavra de ordem enganadora.
O autor quer (mas não pode; também aqui ele não fez mais do que esforços vãos durante todo um ano ...) colocar de modo radicalmente errado, não histórico, a questão da «defesa da pátria».
Os discursos sobre o «dualismo» mostram que o autor não compreende o que é o monismo e o que é o dualismo.
Se eu «unir» uma escova de calçado e um mamífero, será isto «monismo»?
Se eu disser que para atingir o objectivo a é preciso
c
---->
a
<----
bir do ponto (b) para a esquerda e do ponto (c) para a direita, será isto «dualismo»?
Será idêntica a posição do proletariado das nações opressoras e das oprimidas em relação à opressão nacional? Não, não é idêntica, não é idêntica nem economicamente, nem politicamente, nem ideologicamente, espiritualmente, etc.
E então?
Então significa que para atingir o mesmo objectivo (a fusão das nações) de diferentes pontos de partida, uns irão de um modo, outros de outro. A negação disto é o «monismo», que une a escova de calçado com o mamífero.
«Os proletários de uma nação oprimida não devem dizer isto» (somos pela autodeterminação) — assim «compreendeu» o autor as teses da redacção.
Isto é singular!! Nada semelhante se diz nas teses. O autor ou não leu até ao fim, ou então nem sequer pensou.
§ 5. Ver acima sobre o kautskismo.
§ 6. Fala-se ao autor de três tipos de países no mundo inteiro. O autor «faz objecções», procurando «casos». Isto é casuística, e não política.
Quer conhecer um «caso»: «e a Bélgica»?
Ver a brochura de Lénine e de Zinóviev: aí diz-se que nós seríamos pela defesa da Bélgica (mesmo por meio da guerra) se a guerra concreta fosse diferente(4*).
Não concorda com isto?
Diga-o!!
Não pensou bem na questão de porque é que a social-democracia é contra a «defesa da pátria».
Não é por aquilo que pensa que nós somos contra ela, pois a sua colocação da questão (esforços vãos mas não colocação) não é histórica. Eis a minha resposta ao autor.
Chamar «sofística» o facto de nós, justificando a guerra pelo derrubamento da opressão nacional, não justificarmos a presente guerra imperialista que é conduzida por ambas as partes a fim de reforçar a opressão nacional, significa usar uma palavra «forte» mas não pensar nem um instante.
O autor quer colocar de um modo «mais de esquerda» a questão da «defesa da pátria», mas o resultado (há já um ano) é a total confusão!
§ 7. O autor critica: «não se aborda sequer a questão das 'condições de paz' em geral».
Bela crítica: não se aborda uma questão que nós nem sequer colocamos aqui!!
Mas aqui «aborda-se» e coloca-se a questão das anexações, na qual se confundiram os «economistas imperialistas», e desta vez juntamente com os holandeses e Rádek.
Ou você nega a palavra de ordem imediata contra as velhas e as novas anexações — (não menos «irrealizável» sob o imperialismo do que a autodeterminação; na Europa, tal como nas colónias) — e então a sua apologia do imperialismo passa de oculta a aberta.
Ou reconhece esta palavra de ordem (como fez Rádek na imprensa), e então reconhece a autodeterminação das nações, mas sob outro nome!!
§ 8. O autor proclama o «bolchevismo à escala da Europa Ocidental» («não é a posição de você», acrescenta ele).
Eu não atribuo significado ao desejo de se agarrar à palavra «bolchevismo», pois conheço «velhos bolcheviques» tais que Deus nos livre deles. Posso dizer apenas que o «bolchevismo à escala da Europa Ocidental» proclamado pelo autor não é, estou profundamente convencido disso, nem bolchevismo nem marxismo, mas sim uma pequena variante do mesmo velho «economismo».
Na minha opinião, é o cúmulo da inadmissibilidade e da falta de seriedade, da falta de espírito de partido, proclamar durante todo um ano o novo bolchevismo e limitar-se a isso. Não será já a altura de pensar e dar aos camaradas algo que exponha de modo coerente e integral este «bolchevismo à escala da Europa Ocidental»?
O autor não demonstrou nem demonstrará (aplicada a esta questão) a diferença entre as colónias e as nações oprimidas da Europa.
* * *
A negação da autodeterminação pelos holandeses e pela PSD[N380] não é apenas, e até nem é tanto, uma confusão, pois Gorter reconheceu-a de facto, da mesma forma que a declaração de Zimmerwald dos polacos, como um resultado da situação especial das suas nações (nações pequenas com seculares tradições e pretensões de grande potência).
É o cúmulo da irreflexão e da ingenuidade adoptar e repetir mecanicamente e sem crítica aquilo que outros adquiriram durante decénios de luta contra a burguesia nacionalista que engana o povo. Foi exactamente aquilo que não se pode adoptar que esta gente adoptou!
Assinado: N. Lénine
Agora nasce um novo «economismo», que raciocina com duas piruetas análogas: «para a direita» — nós somos contra o «direito à autodeterminação» (isto é, contra a libertação dos povos oprimidos, contra a luta contra as anexações, isto não foi ainda pensado até ao fim ou dito até ao fim). «Para a esquerda» — nós somos contra o programa mínimo (isto é, contra a luta por reformas e pela democracia), pois isso «está em contradição» com a revolução socialista.
Já decorreu mais de um ano desde que esta tendência nascente se manifestou perante alguns camaradas, precisamente na Conferência de Berna na Primavera de 1915[N373]. Então, felizmente, apenas um camarada, que deparou com a desaprovação geral, insistiu até ao fim da conferência nestas ideias do «economismo imperialista» e as formulou por escrito sob a forma de «teses» especiais. Ninguém se associou a estas teses.
Depois associaram-se às teses desse mesmo camarada contra a autodeterminação outros dois (não conscientes da ligação indissolúvel desta questão com a posição geral das «teses» que acabamos de citar[N374]. Mas o aparecimento do «programa holandês» em Fevereiro de 1916, publicado no n.° 3 do Boletim da Comissão Socialista Internacional[N375], imediatamente revelou este «mal-entendido» elevou novamente o autor das «teses» iniciais a ressuscitar todo o seu «economismo imperialista» agora em conjunto, e não aplicado a um ponto pretensamente «parcial».
É absolutamente necessário advertir uma e outra vez os camaradas em questão de que eles st atolaram num pântano, de que as suas «ideias» não têm nada de comum nem com o marxismo, nem com a social-democracia revolucionária. É inadmissível deixar por mais tempo as coisas «no fundo da arca»: isso significaria contribuir para a confusão ideológica e orientá-la para o pior aspecto dos mal-entendidos, dos conflitos «particulares», dos intermináveis «atritos», etc. Pelo contrário, o nosso dever é insistir do modo mais incondicional e categórico na obrigatoriedade de pensar e compreender definitivamente as questões colocadas.
Nas teses sobre a autodeterminação (impressas em alemão, como separata do n.° 2 da Vorbote[N376] a redacção do Sotsial-Demokrat levou de propósito a questão à imprensa de forma impessoal, mas o mais pormenorizada possível, sublinhando em especial a ligação da questão da autodeterminação com a questão geral da luta por reformas, pela democracia, da inadmissíbilidade de ignorar o aspecto político, etc.(1*) Nas suas notas sobre as teses da redacção sobre a autodeterminação, o autor das teses iniciais («do economismo imperialista») solidariza-se com o programa holandês e com isto ele próprio mostra de forma especialmente evidente que a questão da autodeterminação não é de modo algum «parcial», na sua colocação pelos autores da tendência nascente, mas uma questão geral e fundamental.
O programa dos holandeses foi recebido pelos representantes da esquerda de Zimmerwald[N377] em 5-8. II. 1916, na reunião de Berna da Comissão Socialista Internacional[N378]. Nem um só dos membros desta esquerda, não excluindo mesmo Rádek, se pronunciou por este programa, pois ele reúne, desordenadamente, pontos tais como a «expropriação dos bancos», tais como a «abolição das taxas comerciais», a «supressão da primeira câmara do senado», etc. Todos os representantes da esquerda de Zimmerwald unanimemente, com meias palavras e até mesmo quase sem palavras, com um simples encolher de ombros — passaram por cima do programa holandês como evidentemente infeliz no seu conjunto.
Quanto ao autor das teses iniciais, escritas na Primavera de 1915, este programa agradou-lhe tanto que ele declarou: «eu no fundo nada mais disse» (na Primavera de 1915), «os holandeses pensaram até ao fim»: «entre eles, o aspecto económico é a expropriação dos bancos e das grandes indústrias» (empresas), «e o político é a república, etc. Absolutamente justo!».
De facto, os holandeses não «pensaram até ao fim», mas apresentaram um programa muito pouco pensado. É do triste destino da Rússia que entre nós algumas pessoas se agarrem exactamente ao que é pouco pensado nas novidades mais novas...
Ao autor das teses de 1915 parece que a redacção do Sotsial-Demokrat tinha caído em contradição quando «ela própria» apresentou a «expropriação dos bancos», acrescentando mesmo a palavra «imediatamente» (mais «medidas ditatoriais») no § 8 (Tarefas Concretas). «E como eu fui censurado em Berna por causa disto!» — exclama indignado o autor das teses de 1915, ao recordar as discussões de Berna na Primavera de 1915.
Este autor esqueceu-se e deixou passar uma «miudeza»: a redacção do Sotsial-Demokrat no § 8 analisa com clareza dois casos: I — a revolução socialista começou. Então, diz-se ali, a «imediata expropriação dos bancos», etc. II caso: a revolução socialista não começou e então é preciso esperar para falar sobre estas coisas boas.
Como agora a revolução socialista no sentido indicado manifestamente ainda não começou, o programa dos holandeses é também nisso absurdo. Mas o autor das teses «aprofunda» a questão, regressando («todas as vezes neste mesmo lugar»...) ao seu velho erro: transformar as reivindicações políticas (como a «supressão da primeira câmara»?) em «formulação política da revolução social».
Tendo marcado passo no mesmo lugar durante todo um ano, o autor volta ao seu velho erro. Aqui está a «chave» das suas atribulações: ele não pode compreender a questão de como ligar o advento do imperialismo com a luta pelas reformas e com a luta pela democracia, precisamente da mesma forma como o «economismo» de saudosa memória não soube ligar o advento do capitalismo com a luta pela democracia.
Daí a mais completa confusão na questão do «carácter irrealizável» das reivindicações democráticas sob o imperialismo.
Daí o ignorar, inadmissível para um marxista (e oportuno somente na boca de um «economista» partidário do Rabótchaia Misl), da luta política agora, no momento actual, imediatamente, como sempre.
Daí a persistente qualidade de se «desviar» do reconhecimento do imperialismo para a apologia do imperialismo (tal como os «economistas» de saudosa memória se desviavam do reconhecimento do capitalismo para a apologia do capitalismo).
Etc., etc.
Não há possibilidade alguma de analisar em todos os pormenores os erros do autor das teses de 1915 nas suas notas acerca das teses da redacção do Sotsial-Demokrat sobre a autodeterminação, pois cada frase é errada! Pois não se pode escrever brochuras ou livros em resposta às «notas» se os iniciadores do «economismo imperialista» marcam passo no mesmo lugar há um ano e teimosamente não querem ocupar-se daquilo de que é seu dever partidário directo ocupar-se, se quiserem ter uma atitude séria para com as questões políticas, a saber: expor de maneira pensada e integral aquilo a que eles chamam «nossas divergências».
Sou obrigado a limitar-me a umas breves indicações acerca de como é que o autor aplica o seu erro fundamental ou de como ele o «completa».
O autor tem a impressão de que eu me contradigo: em 1914 [Prosvechtchênie) eu escrevia que é um absurdo procurar a autodeterminação «nos programas dos socialistas da Europa Ocidental» e, em 1916, declaro que a autodeterminação é especialmente urgente.
O autor nem sonhou (!!) que estes «programas» foram escritos em 1875, 1880 e 1891![N379]
Prossigamos por §§ (das teses da redacção do Sotsial-Demokrat sobre a autodeterminação):
§ 1. A mesma má vontade «economista» de ver e colocar as questões políticas. Como o socialismo criará a base económica para suprimir a opressão nacional na política, por isso o nosso autor não quer formular as nossas tarefas políticas neste domínio! Isto é simplesmente singular!
Como o proletariado vitorioso não nega as guerras com a burguesia de outros países, por isso o autor não quer formular as nossas tarefas políticas no domínio da opressão nacional!! Tudo isto são exemplos de completas violações do marxismo e da lógica; ou, se quiserdes, uma manifestação da lógica dos erros fundamentais do «economismo imperialista».
§ 2. Os adversários da autodeterminação embrulharam-se imprudentemente com as evocações do «carácter irrealizável».
A redacção do Sotsial-Demokrat explica-lhes dois significados possíveis do carácter irrealizável e o seu erro em ambos os casos.
Mas o autor das teses de 1915, sem tentar sequer apresentar a sua concepção de «carácter irrealizável», isto é, aceitandoa nossa explicação de que se confundem aqui duas coisas diferentes, prossegue nesta confusão!!
Ele liga as crises à «política» «imperialista»: o nosso economista esqueceu-se que as crises existiram antes do imperialismo!...
Falar sobre o carácter economicamente irrealizável da autodeterminação significa embrulhar, explica a redacção. O autor não responde, não declara que ele considera economicamente irrealizável a autodeterminação; ele cede a posição em debate, saltando para a política («mesmo assim» irrealizável), apesar de lhe ter sido dito com a maior clareza que politicamente também a república é tão perfeitamente «irrealizável» sob o imperialismo como a autodeterminação.
Encurralado aqui, o autor «salta» uma vez mais: reconhece tanto a república como todo o programa mínimo apenas como «formulação política da revolução social»!!!
O autor nega-se a defender o carácter «economicamente» irrealizável da autodeterminação, saltando para a política. O carácter politicamente irrealizável é transferido por ele para a questão de todo o programa mínimo. Também aqui não há nem um grão de marxismo, nem um grão de lógica, além da lógica do «economismo imperialista».
O autor quer abolir despercebidamente (sem pensar ele próprio e sem nada dar de acabado, sem trabalhar na elaboração do seu programa) o programa mínimo do partido sodal-democrata! Não é de admirar que ele marque passo no mesmo lugar há um ano!!
A questão da luta contra o kaustskismo não é, além disso, parcial, mas sim uma questão geral e fundamental da actualidade: o autor não compreendeu esta luta. Da mesma forma que os «economistas» transformavam a luta contra o populismo em apologia do capitalismo, também o autor transforma a luta contra o kautskismo em apologia do imperialismo (isto diz respeito também ao § 3).
O erro do kautskismo consiste em que ele coloca de modo reformista tais reivindicações e em tal momento que não podem ser colocadas senão de modo revolucionário (e o autor perde-se pensando que o erro do kautskismo consiste na própria colocação destas reivindicações, tal como os «economistas» «compreendiam» a luta contra o populismo no sentido de que o «abaixo a autocracia» é populismo).
O erro do kautskismo consiste em que ele orienta as reivindicações democráticas justas para trás, para o capitalismo pacífico, e não para a frente, para a revolução social (mas o autor resvala para a opinião de que estas reivindicações não são justas).
§ 3. Ver acima. A questão da «federação» também é iludida pelo autor. O mesmo erro fundamental do mesmo «economismo»: a incapacidade de colocar as questões políticas.(2*)
§ 4. «Da autodeterminação decorre a defesa da pátria», — afirma obstinadamente o autor. Aqui o seu erro consiste em que ele quer transformar a negação da defesa da pátria num chavão, deduzi-la não de uma particularidade histórica concreta desta guerra, mas «em geral». Isto não é marxismo.
Ao autor já se disse há muito tempo, e ele não o desmentiu: experimente inventar uma formulação da luta contra a opressão ou a desigualdade nacional tal que (a formulação) não justifique a «defesa da pátria». Não poderá fazê-lo.
Significa isto que nós somos contrários à luta contra a opressão nacional se dela se pode deduzir a defesa da pátria?
Não. Porque nós não somos contrários «em geral» à «defesa da pátria» (ver as resoluções do nosso partido)(3*) mas contrários ao embelezamento da presente guerra imperialista com esta palavra de ordem enganadora.
O autor quer (mas não pode; também aqui ele não fez mais do que esforços vãos durante todo um ano ...) colocar de modo radicalmente errado, não histórico, a questão da «defesa da pátria».
Os discursos sobre o «dualismo» mostram que o autor não compreende o que é o monismo e o que é o dualismo.
Se eu «unir» uma escova de calçado e um mamífero, será isto «monismo»?
Se eu disser que para atingir o objectivo a é preciso
c
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a
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bir do ponto (b) para a esquerda e do ponto (c) para a direita, será isto «dualismo»?
Será idêntica a posição do proletariado das nações opressoras e das oprimidas em relação à opressão nacional? Não, não é idêntica, não é idêntica nem economicamente, nem politicamente, nem ideologicamente, espiritualmente, etc.
E então?
Então significa que para atingir o mesmo objectivo (a fusão das nações) de diferentes pontos de partida, uns irão de um modo, outros de outro. A negação disto é o «monismo», que une a escova de calçado com o mamífero.
«Os proletários de uma nação oprimida não devem dizer isto» (somos pela autodeterminação) — assim «compreendeu» o autor as teses da redacção.
Isto é singular!! Nada semelhante se diz nas teses. O autor ou não leu até ao fim, ou então nem sequer pensou.
§ 5. Ver acima sobre o kautskismo.
§ 6. Fala-se ao autor de três tipos de países no mundo inteiro. O autor «faz objecções», procurando «casos». Isto é casuística, e não política.
Quer conhecer um «caso»: «e a Bélgica»?
Ver a brochura de Lénine e de Zinóviev: aí diz-se que nós seríamos pela defesa da Bélgica (mesmo por meio da guerra) se a guerra concreta fosse diferente(4*).
Não concorda com isto?
Diga-o!!
Não pensou bem na questão de porque é que a social-democracia é contra a «defesa da pátria».
Não é por aquilo que pensa que nós somos contra ela, pois a sua colocação da questão (esforços vãos mas não colocação) não é histórica. Eis a minha resposta ao autor.
Chamar «sofística» o facto de nós, justificando a guerra pelo derrubamento da opressão nacional, não justificarmos a presente guerra imperialista que é conduzida por ambas as partes a fim de reforçar a opressão nacional, significa usar uma palavra «forte» mas não pensar nem um instante.
O autor quer colocar de um modo «mais de esquerda» a questão da «defesa da pátria», mas o resultado (há já um ano) é a total confusão!
§ 7. O autor critica: «não se aborda sequer a questão das 'condições de paz' em geral».
Bela crítica: não se aborda uma questão que nós nem sequer colocamos aqui!!
Mas aqui «aborda-se» e coloca-se a questão das anexações, na qual se confundiram os «economistas imperialistas», e desta vez juntamente com os holandeses e Rádek.
Ou você nega a palavra de ordem imediata contra as velhas e as novas anexações — (não menos «irrealizável» sob o imperialismo do que a autodeterminação; na Europa, tal como nas colónias) — e então a sua apologia do imperialismo passa de oculta a aberta.
Ou reconhece esta palavra de ordem (como fez Rádek na imprensa), e então reconhece a autodeterminação das nações, mas sob outro nome!!
§ 8. O autor proclama o «bolchevismo à escala da Europa Ocidental» («não é a posição de você», acrescenta ele).
Eu não atribuo significado ao desejo de se agarrar à palavra «bolchevismo», pois conheço «velhos bolcheviques» tais que Deus nos livre deles. Posso dizer apenas que o «bolchevismo à escala da Europa Ocidental» proclamado pelo autor não é, estou profundamente convencido disso, nem bolchevismo nem marxismo, mas sim uma pequena variante do mesmo velho «economismo».
Na minha opinião, é o cúmulo da inadmissibilidade e da falta de seriedade, da falta de espírito de partido, proclamar durante todo um ano o novo bolchevismo e limitar-se a isso. Não será já a altura de pensar e dar aos camaradas algo que exponha de modo coerente e integral este «bolchevismo à escala da Europa Ocidental»?
O autor não demonstrou nem demonstrará (aplicada a esta questão) a diferença entre as colónias e as nações oprimidas da Europa.
* * *
A negação da autodeterminação pelos holandeses e pela PSD[N380] não é apenas, e até nem é tanto, uma confusão, pois Gorter reconheceu-a de facto, da mesma forma que a declaração de Zimmerwald dos polacos, como um resultado da situação especial das suas nações (nações pequenas com seculares tradições e pretensões de grande potência).
É o cúmulo da irreflexão e da ingenuidade adoptar e repetir mecanicamente e sem crítica aquilo que outros adquiriram durante decénios de luta contra a burguesia nacionalista que engana o povo. Foi exactamente aquilo que não se pode adoptar que esta gente adoptou!
Assinado: N. Lénine
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