13. As pessoas superficialmente informadas do estado de coisas na social-democracia da Rússia ou que o apreciam de fora, que desconhecem a história de toda a luta dentro do nosso partido desde o tempo do «economismo», tratam frequentemente também as divergências tácticas que se definiram agora, sobretudo depois do III congresso, com uma simples alusão a duas tendências naturais, inevitáveis, perfeitamente conciliáveis, em qualquer movimento social-democrata. Por um lado, dizem, a forte acentuação do trabalho corrente, quotidiano, habitual, a necessidade de desenvolver a propaganda e a agitação, de preparar as forças, de aprofundar o movimento, etc. Por outro lado a acentuação das tarefas de combate, políticas gerais, revolucionárias, do movimento, o apontar da necessidade da insurreição armada e o lançar das palavras de ordem: ditadura revolucionária democrática, governo provisório revolucionário. Nem um nem outro lado deve ser exagerado, nem aqui nem ali (como, em geral, em nenhuma parte do mundo) os extremos são úteis, etc, etc.
As verdades baratas da sabedoria da vida (e da «política» entre aspas) que indubitavelmente se encontram em semelhantes raciocínios encobrem entretanto com demasiada frequência a incompreensão das necessidades vitais, prementes, do partido. Tomai as actuais divergências tácticas entre os sociais-democratas russos. Naturalmente que o facto de se sublinhar fortemente o aspecto quotidiano, habitual, do trabalho que vemos nos raciocínios neo-iskristas sobre a táctica não poderia representar em si mesmo nenhum perigo e nenhuma divergência nas palavras de ordem tácticas. Mas basta comparar as resoluções do III congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia com as resoluções da conferência para que esta divergência salte aos olhos.
De que se trata? Trata-se, em primeiro lugar, de que não basta uma simples indicação geral, abstracta, das duas correntes no movimento e da nocividade dos extremos. É preciso saber concretamente de que sofre o movimento em questão no momento em questão, qual é agora o perigo político real para o partido. Em segundo lugar, é preciso saber ao moinho de que forças políticas reais levam água estas ou outras palavras de ordem tácticas — ou talvez a própria ausência destas ou doutras palavras de ordem. Ouvi os neo-iskristas e chegareis à conclusão de que o partido da social-democracia se encontra ameaçado pelo perigo de deitar pela borda fora a propaganda e a agitação, a luta económica e a crítica da democracia burguesa, de se deixar arrastar desmedidamente pela preparação militar, pelos ataques armados, pela tomada do poder, etc. Mas na verdade perigo real ameaça o partido de um lado completamente diferente. Aquele que conheça minimamente a situação do movimento, aquele que o acompanhe de modo atento e reflectido, não pode deixar de ver o lado ridículo dos temores dos neo-iskristas. Todo o trabalho do Partido Operáric Social-Democrata da Rússia já se adaptou a um quadro sólido e invariável, que garante incondicionalmente a concentração do centro de gravidade na propaganda e na agitação, nos comícios-relâmpago e nos comícios de massas, na difusão de panfletos e brochuras, na colaboração na luta económica e no apoio às suas palavras de ordem. Não há um só comité do partido, um só comité regional, uma só reunião central, um só grupo de fábrica, no qual noventa e nove por cento da atenção, forças tempo não sejam dedicados, sempre e constantemente, a todas estas funções, já estabelecidas desde a segunda metade dos anos noventa. Só não sabem isto as pessoas que não conhecem em absoluto o movimento. Só pessoas muito ingénuas ou mal informadas podem levar a sério repetição neo-iskrista de coisas há muito sabidas quando isto se faz com ar de importância.
O facto é que entre nós as pessoas não só não se deixam arrastar desmedidamente pelas tarefas da insurreição, pelas palavras de ordem políticas gerais, pela direcção de toda a revolução popular, antes, pelo contrário, o atraso precisamente neste sentido salta aos olhos, é o lado mais vulnerável, representa um perigo real para o movimento, o qual pode degenerar e está degenerando já aqui e ali de revolucionário de facto em revolucionário de palavra. Das muitas centenas de organizações, grupos e círculos que realizam o trabalho do partido, não encontrareis um único no qual não se tenha levado a cabo, desde o seu próprio aparecimento, esse trabalho quotidiano de que falam os sábios do novo Iskra, com o ar de quem descobriu novas verdades. Pelo contrário, encontrareis uma percentagem insignificante de grupos e círculos que tenham consciência das tarefas da insurreição armada, que tenham empreendido realização das mesmas, que se apercebam da necessidade de dirigir toda revolução popular contra o tsarismo, da necessidade de formular, para isso, exactamente estas e não outras palavras de ordem de vanguarda.
Atrasámo-nos incrivelmente em relação às tarefas de vanguarda efectivamente revolucionárias, não adquirimos ainda consciência das mesmas numa infinidade de casos, aqui e ali deixámos que a democracia burguesa revolucionária se fortalecesse devido ao nosso atraso neste aspecto. E os escritores do novo Iskra, voltando as costas à marcha dos acontecimentos e às exigências do momento, repetem obstinadamente; não esqueçais o que é velho! não vos deixeis arrastar pelo que é novo! É este o motivo fundamental e invariável de todas as resoluções fundamentais da conferência, enquanto nas resoluções do congresso podereis ler, também invariavelmente: ao mesmo tempo que confirmamos o que é velho (e sem nos determos a ruminá-lo, exactamente porque é velho, já decidido e consagrado na literatura, nas resoluções e na experiência), apresentamos uma nova tarefa, chamamos a atenção para ela, colocamos uma nova palavra de ordem, exigimos dos sociais-democratas realmente revolucionários um trabalho imediato para a levar à prática.
Eis como se coloca na realidade a questão das duas tendências na táctica da social-democracia. A época revolucionária colocou novas tarefas que só os que são completamente cegos não vêem. E estas tarefas aceitam-nas decididamente uns sociais-democratas e põem-nas na ordem do dia: a insurreição armada é inadiável, preparai-vos para ela, imediata energicamente, lembrai-vos de que é necessária para a vitória decisiva, apresentai as palavras de ordem de república, de governo provisório, de ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato. Os outros, contudo, recuam, marcam passo, em vez de dar palavras de ordem escrevem prólogos, em vez de indicarem o que é novo, paralelamente com a confirmação do que é velho, ruminam longa e fastidiosamente o que é velho, inventam pretextos para evitar o que é novo, são incapazes de definir as condições da vitória decisiva, são incapazes de apresentar as únicas palavras de ordem que correspondem à aspiração de conseguir a vitória completa.
É evidente o resultado político deste seguidismo. A fábula da aproximação da «maioria» do Partido Operário Social-Democrata da Rússia da democracia burguesa revolucionária continua a ser uma fábula, não confirmada por nem um só facto político, por nem uma só resolução importante dos «bolcheviques», nem por um só acto do III congresso do Partido Operário Social-Democrata da Rússia. E entretanto, a burguesia oportunista, monárquica, personificada pela Osvobojdénie, saúda há muito tempo as tendências «de princípio» do neo-iskrismo e agora usa directamente a sua água para fazer mover o seu moinho, retoma todas as suas palavrinhas e «ideiazinhas» contra a «conspiração» e o «motim», contra os exageros do aspecto «técnico» da revolução, contra a apresentação directa da palavra de ordem de insurreição armada, contra o «revolucionarismo» das reivindicações extremas, etc, etc. A resolução de toda uma conferência de sociais-democratas «mencheviques» no Cáucaso e a aprovação desta resolução pela redacção do novo Iskra oferecem um resumo político inequívoco de tudo isso: o essencial é que a burguesia não se afaste em caso de participação do proletariado na ditadura revolucionária democrática! Com isto, tudo fica dito. Com isto, fica definitivamente consagrada a transformação do proletariado em apêndice da burguesia monárquica. Com isto, fica demonstrada na prática, não pela declaração casual de uma qualquer pessoa mas por uma resolução especialmente aprovada por toda uma tendência, a significação política do seguidismo neo-iskrista.
Quem reflectir sobre estes factos compreenderá a verdadeira significação das alusões correntes aos dois aspectos e às duas tendências do movimento social-democrata. Tomai o bernsteinianismo para estudar estas tendências em grande escala. Pois os bernsteinianos afirmavam e afirmam, exactamente da mesma maneira, que são precisamente eles que compreendem as verdadeiras necessidades do proletariado, as tarefas do crescimento das suas forças, do aprofundamento de todo o trabalho, da preparação dos elementos da nova sociedade, da propaganda e da agitação. Exigimos o reconhecimento aberto do que é! — diz Bernstein, consagrando com isso o «movimento» sem «objectivo final», consagrando apenas a táctica defensiva, pregando a táctica do medo de que «a burguesia se afaste». Também os bernsteinianos gritavam a propósito do «jacobinismo» dos sociais-democratas revolucionários, dos «literatos», que não compreendem a «iniciativa operária», etc. etc. Na realidade, como toda a gente sabe, os sociais-democratas revolucionários nunca pensaram sequer em abandonar o trabalho quotidiano e miúdo, a preparação de forças, etc, etc. A única coisa que exigiam era a consciência clara do objectivo final, a colocação clara das tarefas revolucionárias; queriam elevar as camadas semiproletárias e semipequeno-burguesas até ao nível revolucionário do proletariado e não rebaixar este último até às considerações oportunistas de que «a burguesia não se afaste». Talvez a expressão mais eloquente desta dissensão entre a ala intelectual-oportunista e a ala proletária-revolucionária do partido fosse a pergunta: dürfen wir siegen? «ousaremos nós vencer?» é-nos permitido vencer? não é perigoso vencer? devemos vencer? Por estranha que pareça à primeira vista, esta pergunta foi, todavia, formulada, e tinha de o ser, pois os oportunistas temiam a vitória, intimidavam o proletariado com ela, prognosticavam toda a espécie de calamidades como consequência dela, ridicularizavam as palavras de ordem que apelavam abertamente para ela.
Esta mesma divisão fundamental em tendência intelectual-oportunista e proletária-revolucionária existe também entre nós, apenas com a diferença, muito essencial, de que se trata não da revolução socialista mas da democrática. Entre nós foi também formulada a pergunta, absurda à primeira vista: «ousaremos nós vencer?» Esta pergunta foi formulada por Martínov no seu livro Duas Ditaduras, em que profetiza toda a espécie de calamidades no caso de nos prepararmos muito bem e levarmos a cabo a insurreição com pleno êxito. Foi também formulada por toda a literatura dos neo-iskristas consagrada à questão do governo provisório revolucionário, na qual tentaram constante e persistentemente, mas sem êxito, confundir a participação de Millerand no governo burguês-oportunista com a participação de Varlin no governo revolucionário pequeno-burguês. Ela foi consagrada pela resolução: «que a burguesia não se afaste». E conquanto Kaustky, por exemplo, tente agora fazer ironia, dizendo que as nossas discussões a respeito do governo provisório revolucionário se parecem com a partilha da pele do urso antes de o ter morto, esta ironia nada mais demonstra senão que mesmo sociais-democratas inteligentes e revolucionários dão passos em falso quando tratam de assuntos que só conhecem por ouvir dizer. A social-democracia alemã não se encontra ainda muito perto do momento em que possa matar o urso (realizar a revolução socialista), mas a discussão a respeito de sabermos se «ousamos» matá-lo teve uma imensa importância do ponto de vista de princípio e do ponto de vista político-prático. Os sociais-democratas russos não se encontram ainda muito perto de terem forças suficientes para matar «o seu urso» (realizar a revolução democrática), mas a questão de sabermos se «ousamos» matá-lo tem uma importância extremamente séria para todo o futuro da Rússia e para o futuro da social-democracia russa. Não se pode falar do recrutamento enérgico e com êxito de um exército e da sua direcção sem a certeza de que «ousamos» vencer.
Considerai os nossos velhos «economistas». Também eles gritavam que os seus adversários eram conspiradores, jacobinos (ver a Rabótcheie Dielo, sobretudo o n.° 10, e o discurso de Martínov nos debates do II congresso sobre o programa) que, absorvidos pela política, se separavam das massas, que eles esqueciam as bases do movimento operário, não tinham em conta a iniciativa operária, etc, etc. Mas na realidade estes partidários da «iniciativa operária» eram intelectuais oportunistas que impunham aos operários a sua concepção estreita e filistina das tarefas do proletariado. Na realidade, os adversários do «economismo», como todos podem ver pelo velho Iskra, não abandonavam nem relegavam para o último plano nem um só dos aspectos do trabalho social-democrata, não esqueciam no mínimo a luta económica, mas sabiam ao mesmo tempo colocar com toda a amplitude as tarefas políticas urgentes e imediatas opondo-se à transformação do partido operário num apêndice «económico» da burguesia liberal.
Os economistas tinham aprendido de cor que na base da política está a economia e «entendiam» isto como se fosse necessário rebaixar a luta política até à luta económica. Os neo-iskristas aprenderam de cor que a revolução democrática tem na sua base económica a revolução burguesa, e «entenderam» isto como se fosse necessário rebaixar as tarefas democráticas do proletariado até ao nível da moderação burguesa, até ao limite além do qual «a burguesia se afastará». Os «economistas», com o pretexto de aprofundarem o trabalho, com o pretexto da iniciativa operária e da política puramente de classe, na realidade entregavam a classe operária nas mãos dos políticos liberais-burgueses, isto é, conduziam o partido por uma via cuja significação objectiva era precisamente esta. Os neo-iskristas, com os mesmos pretextos, traem na realidade os interesses do proletariado na revolução democrática a favor da burguesia, isto é, conduzem o partido por uma via cuja significação objectiva é precisamente esta. Aos «economistas» parecia-lhes que a hegemonia na luta política não diz respeito aos sociais-democratas mas propriamente aos liberais. Aos neo-iskristas parece-lhes que a realização activa da revolução democrática não diz respeito aos sociais-democratas mas propriamente à burguesia democrática, uma vez que a direcção e a participação hegemónica do proletariado «diminuíam a amplitude» da revolução.
Numa palavra, os neo-iskristas são epígonos do «economismo», não só pela sua origem no II congresso do partido, como também pelo modo actuai de colocar as tarefas tácticas do proletariado na revolução democrática. São também uma ala intelectual-oportunista do partido. Na organização ela começou com o individualismo anarquista próprio dos intelectuais e terminou com a «desorganização-processo», consagrando nos «estatutos»[N258], aprovados pela conferência, o isolamento da literatura em relação à organização do partido, as eleições indirectas, quase em quatro graus, o sistema dos plebiscitos bonapartistas em vez da representação democrática e, finalmente, o princípio do «acordo» entre a parte e o todo. Na táctica do partido, resvalaram pelo mesmo plano inclinado. No «plano de campanha dos zemstvos»[N259], declararam como «tipo superior de manifestação» as acções perante os zemtsi, e não viam na cena política senão duas forças activas (isto nas vésperas do 9 de Janeiro!) — o governo e a democracia burguesa. «Aprofundaram» a tarefa urgente de se armar substituindo a palavra de ordem prática e directa por um apelo para se armar com o desejo ardente de se armar. As tarefas da insurreição armada, do governo provisório, da ditadura democrática revolucionária, foram agora deformadas e embotadas nas suas resoluções oficiais. «Que a burguesia não se afaste» — este acorde final da última das suas resoluções lança uma viva luz sobre a questão de onde a sua via conduz o partido.
A revolução democrática na Rússia é uma revolução burguesa pela sua essência social e económica. Contudo, não basta repetir simplesmente esta justa tese marxista. É preciso saber compreendê-la e saber aplicá-la às palavras de ordem políticas. Toda a liberdade política em geral é, na base das relações de produção actuais, isto é, capitalistas, liberdade burguesa. A reivindicação de liberdade exprime, em primeiro lugar, os interesses da burguesia. Os seus representantes foram os primeiros a apresentar esta reivindicação. Os seus partidários dispuseram por toda a parte como senhores da liberdade obtida, reduzindo-a a uma medida burguesa, moderada e bem arranjadinha, combinando-a com a repressão, mais refinada em tempo de paz e ferozmente cruel em tempo de tormenta, do proletariado revolucionário.
Mas só os populistas rebeldes, os anarquistas e os «economistas» podiam deduzir disto a negação ou o desprezo da luta pela liberdade. Estas doutrinas intelectual-filistinas só temporariamente puderam ser impostas ao proletariado, e apesar da sua resistência. O proletariado deu-se conta por instinto de que a liberdade política lhe é necessária, lhe é necessária mais do que a ninguém, apesar de ela reforçar e organizar directamente a burguesia. O proletariado não espera a sua salvação do afastamento da luta de classes, mas do seu desenvolvimento, do aumento da sua amplitude, da sua consciência, da sua organização, da sua decisão. Quem menospreze as tarefas da luta política converte o social-democrata de tribuno popular em secretário de trade-union. Quem menospreze as tarefas proletárias na revolução democrática burguesa converte o social-democrata de chefe da revolução popular em dirigente de um sindicato operário livre.
Sim, da revolução popular. A social-democracia lutou e luta, com pleno direito, contra o abuso democrático-burguês da palavra povo. Exige que com esta palavra nao se encubra a incompreensão dos antagonismos de classe no seio do povo. Insiste categoricamente na necessidade de uma completa independência de classe do partido do proletariado. Mas divide o «povo» em «classes» não para que a classe avançada se encerre em si mesma, se confine em limites estreitos, castre a sua actividade com considerações como a de que não se afastem os donos económicos do mundo, mas para que a classe avançada, não sofrendo das vacilações, da inconsistência, da indecisão das classes intermédias, lute com tanto maior energia, com tanto maior entusiasmo pela causa de todo o povo, à frente de todo o povo.
Eis o que frequentemente não compreendem os neo-iskristas actuais que substituem a apresentação de palavras de ordem políticas activas na revolução democrática pela repetição verbalista das palavras «de classe» em todos os géneros e casos!
A revolução democrática é burguesa. A palavra de ordem de partilha negra ou de terra e liberdade — esta palavra de ordem difundidíssíma das massas camponesas ignorantes e oprimidas, mas que buscam apaixonadamente a luz e a felicidade — é burguesa. Mas nós, marxistas, devemos saber que não há e não pode haver outra via para a verdadeira liberdade do proletariado e do campesinato senão a via da liberdade burguesa e do progresso burguês. Não devemos esquecer que, actualmente, não há nem pode haver outro meio capaz de aproximar o socialismo senão a completa liberdade política, a república democrática, a ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato. Como representantes da classe avançada, a única que é revolucionária sem reservas, sem dúvidas, sem olhar para trás, devemos colocar perante todo o povo, do modo mais amplo, mais audaz e com a maior iniciativa possível, as tarefas da revolução democrática. O menosprezo destas tarefas é no plano teórico uma caricatura do marxismo e uma adulteração filístina do mesmo e no plano político-prático significa entregar a causa da revolução nas mãos da burguesia, que inevitavelmente se afastará da realização consequente da revolução. As dificuldades que se erguem no caminho para a vitória completa da revolução são muito grandes. Ninguém poderá condenar os representantes do proletariado se fizerem tudo o que lhes é possível e se todos os seus esforços se quebrarem perante a resistência da reacção, a traição da burguesia e a ignorância das massas. Mas todos e cada um — e sobretudo o proletariado consciente — condenarão a social-democracia se esta cercear a energia revolucionária da revolução democrática, se cercear o entusiasmo revolucionário por medo de vencer, por considerar que a burguesia se pode afastar.
As revoluções são as locomotivas da história, dizia Marx[N260]. As revoluções são a festa dos oprimidos e explorados. Nunca a massa do povo é capaz de ser um criador tão activo do novo regime social como em tempo de revolução. Em tais períodos o povo é capaz de fazer milagres, do ponto de vista da medida estreita e pequeno-burguesa do progresso gradual. Mas em tais períodos é necessário que também os dirigentes dos partidos revolucionários apresentem as suas tarefas de um modo mais amplo e audaz, que as suas palavras de ordem vão sempre à frente da iniciativa revolucionária das massas, servindo de farol para elas, mostrando em toda a sua grandeza, em toda a sua beleza, o nosso ideal democrático e socialista, mostrando a via mais curta e mais directa para a vitória completa, incondicional e decisiva. Deixemos aos oportunistas da burguesia «osvobojdenista» a invenção, por medo da revolução e por medo da via directa, de vias indirectas, de rodeio, de compromisso. Se formos obrigados pela força a arrastarmo-nos por tais vias, saberemos cumprir o nosso dever mesmo no pequeno trabalho quotidiano. Mas que seja a luta implacável a decidir antes da escolha da via. Seremos traidores e renegados da revolução se não aproveitarmos esta energia festiva das massas e o seu entusiasmo revolucionário para a luta implacável e abnegada pela via directa e decisiva. Deixemos os oportunistas da burguesia pensar cobardemente na reacção futura. Aos operários não os assusta a idéia de que a reacção está disposta a ser terrível, nem que a burguesia está disposta a afastar-se da revolução. Os operários não esperam transacções, não pedem esmolas, aspiram a esmagar implacavelmente as forças reaccionárias, isto é, à ditadura revolucionária democrática do proletariado e do campesinato.
Nem é preciso dizer que nos períodos tempestuosos a barca do nosso partido se vê ameaçada por maiores perigos do que durante a «navegação» tranquila do progresso liberal, que significa o espremer doloroso e lento do sumo da classe operária pelos seus exploradores. Nem é preciso dizer que as tarefas da ditadura revolucionária democrática são mil vezes mais difíceis e complexas do que as tarefas da «oposição extrema» e as da luta apenas parlamentar. Mas quem, no momento revolucionário actual, for capaz de preferir conscientemente a navegação tranquila e a via da «oposição» sem perigos, é melhor que se afaste temporariamente do trabalho social-democrata, é melhor que espere o fim da revolução, que a festa termine e se volte ao trabalho quotidiano, e que a sua medida estreita e quotidiana não seja então uma dissonância tão repugnante e uma deformação tão monstruosa das tarefas da classe avançada.
A cabeça de todo o povo e em particular do campesinato — pela liberdade total, pela revolução democrática consequente, pela república! A cabeça de todos os trabalhadores e explorados — pelo socialismo! Tal deve ser na prática a política do proletariado revolucionário, tal é a palavra de ordem de classe que deve penetrar e determinar a solução de todas as questões tácticas, de todos os passos práticos do partido operário durante a revolução.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Conclusão. Ousaremos Nós Vencer?
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