quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Conclusão

A história da social-democracia russa divide-se nitidamente em três períodos. O primeiro abrange uma dezena de anos, aproximadamente de 1884 a 1894. Foi o período do nascimento e consolidação da teoria e do programa da social-democracia. Os partidários da nova orientação na Rússia eram contados nos dedos. A social-democracia existia sem o movimento operário, e atravessava, como partido político, um período de gestação. O segundo período estende-se por três ou quatro anos, de 1894 a 1898. A social-democracia vem ao mundo como movimento social, como ascensão das massas populares, como partido político. É o período da infância e da adolescência. Com a rapidez de uma epidemia, o entusiasmo geral pela luta contra o populismo propaga-se entre os intelectuais, que vão aos operários, bem como difunde-se o entusiasmo geral dos operários pelas greves. O movimento faz enormes progressos. A maior parte dos dirigentes é constituída por jovens, que ainda não atingiram e ainda estão longe, "dos trinta, e cinco anos", que o Sr. N. Mikhailóvski considerava como uma espécie de limite natural. Por causa de sua juventude, revelam-se pouco preparados para o trabalho prático e saem de cena com muita rapidez. Na maioria das vezes, porém, seu trabalho apresentava grande amplitude. Muitos dentre eles tinham começado a pensar como revolucionários, como narodovoltsy. Quase todos, em sua primeira juventude, haviam cultuado os heróis do terror. Para subtraí-los à sedução dessa tradição heróica, foi preciso lutar, romper com pessoas que queriam a qualquer custo permanecer fiéis à "Narodnaia Volia", e a quem os jovens sociais-democratas tinham em alta estima. A luta impunha instruir-se, ler obras ilegais de todas as tendências, ocupar-se intensamente dos problemas do populismo legal. Formados nessa luta, os sociais-democratas iam ao movimento operário, sem esquecer "um instante" a teoria marxista que os iluminava como uma- luz brilhante, ou o objetivo de derrubar a autocracia. A formação de um Partido, na primavera de 1898, foi o fato mais marcante e ao mesmo tempo o último ato dos sociais-democratas desse período. O terceiro período anuncia-se, como vimos, em 1897 e substitui definitivamente o segundo período em i898 (1898-?). E o período de dispersão, de desagregação, de vacilação. Tal como entre os adolescentes ocorre a mudança de voz, também a voz da social-democracia russa desse período começou a mudar, a soar falso - de um lado, nas obras dos Senhores Struve e Prokopovitch, Bulgakov e Berdiaiev; de outro, entre V.I. e R. M., entre B. Kritchévski e Martynov. Mas somente os dirigentes erravam, cada um de seu lado, e retrocediam: o movimento continuava a estender-se, a avançar a passos de gigante. A luta proletária ganhava novas camadas de operárias e propagava-se através da Rússia, contribuindo ao mesmo tempo, indiretamente, para reanimar o espírito democrático entre os estudantes e as outras categorias da população. Mas a consciência dos dirigentes cedeu diante da grandeza e força do impulso espontâneo, entre os sociais- democratas já predominava uma outra fase, a dos militantes alimentados quase que unicamente pela literatura marxista "legal"; esta era cada vez mais insuficiente, à medida em que a espontaneidade das massas exigia desses militantes um maior grau de consciência. Os dirigentes não apenas ficaram para trás no plano teórico ("liberdade de critica"), como também no plano prático ("métodos artesanais de trabalho"), e ainda procuraram justificar seu atraso com toda espécie, de argumentos grandiloqüentes. A social-democracia foi nivelada ao sindicalismo, tanto pelos brentanistas da literatura legal como pelos seguidores da literatura ilegal. O programa do Credo começou a se realizar, principalmente quando o "trabalho artesanal" dos sociais-democratas, reanimou as tendências revolucionárias não sociais-democratas. E se o leitor me recrimina por ter me ocupado demasiadamente de um jornal como o Rabótcheie Dielo, responderei: O Rabótcheie Dielo assumiu importância "histórica", porque traduziu da forma mais relevante o "espírito" desse terceiro período.
Não era o conseqüente R. M., mas Kritchévski e Martynov, que giram como cata-vento, que podiam exprimir da melhor forma a dispersão e as oscilações, o empenho em fazer concessões à "crítica", ao "economismo", e ao terrorismo. Não é o majestoso desdém pela prática, de um admirador 140 qualquer do "absoluto" que caracteriza esse período, mas exatamente a conjugação de um praticismo mesquinho e da mais completa despreocupação em relação à teoria. Os heróis desse período não se preocuparam tanto em negar diretamente as "grandes frases" como em banalizá-las: o socialismo científico deixou de ser um corpo de doutrina revolucionária e tornou-se uma mistura confusa, à qual foi acrescentado "livremente" o conteúdo de qualquer manual alemão novo; a palavra de ordem, "luta de classes", não conduzia a uma ação cada vez mais extensa e enérgica - servia de emoliente, pois a "luta econômica está indissoluvelmente ligada à luta política", a idéia de partido não estimulava a criação de uma organização revolucionária de combate, justificando uma espécie de "burocratismo revolucionário" e uma tendência pueril em brincar com as formas "democráticas". Ignoramos quando terminará o terceiro período e terá início o quarto (que, em todo caso, já se anuncia por numerosos sintomas). Do domínio da história, passamos aqui para o domínio do tempo presente e, em parte, para o do futuro. Mas. temos a firme convicção que o quarto período conduzirá à consolidação do marxismo militante: que a social-democracia russa sairá da crise mais forte e viril: que a retaguarda dos oportunistas será "rendida" pela verdadeira vanguarda da mais revolucionária das classes. Exortando para que se faça essa "rendição" e resumindo tudo o que foi exposto anteriormente, podemos dar à pergunta "Que fazer?" uma breve resposta: Liquidar o terceiro período

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